terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Encontro

Manhãs claras,

Dias cheios ,

Noites Quentes.

De olhares nítidos, cruzados

Dias vívidos, prazeres partilhados

[Em que] o encontro, inesperado

Se assinala com a Chegada!

Rumo ao momento

Saúda-se a energia…

Dos abraços

Dos sorrisos claros

E do tempo, passado.

Surgem nítidos à memória

Os contornos, dias passados

Entre o acaso, a sombra,

O ruído, as gargalhadas…

Voltam a encontrar-se: estranhos,

Conhecidos, passageiros, multidões

Há muito desencontrados

Do tempo dos sorrisos

Das manhãs claras.

Volta a corrida interminável

Do tempo, ao trilho dos ponteiros

E, no retorno d’O Momento

Avida do encontro partilhado.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Retorno

Neste momento Regressa-se. Reincide-se. Reencontra-se. Apesar do avançar algo tímido do novo tempo que se atreve a espreitar existe um Retorno. Reconhece-se, o tema, o conflito, a luta constante entre ser e atrever-SE. Atrever-se a SER. Uma nova descoberta, novas construções e para mim, um desafio sonhado. Agradeço sempre, é certo. Apesar das Grandes Liberdades de que me sinto filha. Não agradeço a Pais Deuses. Agradeço pelo estar em Construção ainda que assim, com todos os Constrangimentos Sentidos e todos os Retornos, agradeço estas Oportunidades a tempo que me fazem Crescer tanto Interiormente. Esta é, sem outros nomes ou apelidos, uma estória com história que também me Habita. Atrevo-me a SER.
ACC

segunda-feira, 22 de março de 2010

Talvez

Talvez

Nem o "tão pouco"
Nem o "tudo"
Talvez algures o intermédio.
A ponte entre o nada
E coisa alguma.
Talvez o amanhecer
Seguido de um pôr do sol.
Talvez...
Talvez não um sentido excessivo
Mas algum... Porventura o sentido
Exacto! Ou nenhum...
Talvez.

ACC - 2001

Encontro d'hoje

Pedro esguio, rosto cerrado, teima em esconder-se sem se deixar chegar.. Ana, aguarda na ampla sala e em silêncio debate-se com a tentativa de transformar aquele num dia diferente, marcado por uma estória, uma janela aberta à fantasia, que, contudo é efémera... Tantas caras, tantas expressões, tantas histórias. Mesmo assim Pedro fica do lado de lá. De expressão carregada, fechada, podia-se antever que algo de explosivo, violento ficava por adivinhar. O que seria? Tanto por fazer. Abrem-se expressões, vozes, sobrancelhas erguidas. Num breve desafio estabelece-se uma pequena ponte para o momento que se deixa adivinhar na tentativa de que juntos possamos aprender algo para o dia-a-dia, mais uma luta para muitos importante, tentando alcançar comportamentos e princípios por vezes difíceis de mudar, semeados em terras bem profundas... Erguem-se princípios, versos, jogos numa dança difícil de manter, com altos e baixos. Pedro sorri brevemente e por momentos despe a sua expressão guerreira e a sua distância. Missão cumprida, dúvidas erguidas. Mais um dia numa agenda que Ana nem sempre reconhece como sua, procurando o seu lugar na viagem d'hoje, na luta dos dias que se seguem, numa dança interminável, em que os encontros vão e voltam e tanto fica por transformar...
ACC

sábado, 20 de março de 2010

A Ponte

Maria atravessou uma longa ponte uma certa manhã de Fevereiro. Nessa manhã fria e cinzenta saía à rua, de rosto erguido, habitavam-na certezas, ainda que meias certezas e ainda em fase de experimentação. Estava certa dos seus passos, do que gostava de fazer naquela manhã, por agora gostava de caminhar. Maria caminhava a partir de então sem paladinos, sem mandatários. Dirigia-se à porta do Mundo e abria-a a cada dia, independemente do tempo que fazia lá fora, abria janelas e despia a cor dos dias sem receios. No fundo de si encontrava sorrisos, mas também desamparos tímidos que agora via... Hoje encontrava e construía também ela tantas pontes quantas as pessoas com que se havia de facto cruzado na grande ponte da manhã fria de Fevereiro.
ACC

terça-feira, 16 de março de 2010

Identidade

Preciso ser um outro

para ser eu mesmo
Sou grão de rocha

Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando

o sexo das árvores
Existo onde me desconheço

aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro

no mundo por que luto nasço

Mia Couto

segunda-feira, 15 de março de 2010

Flor em Construção

Um dia Flor, que se mostrara sempre sorridente acordou insatisfeita e percebeu que aquilo que havia imaginado e escolhido viver como alegrias e vivido sem medos regressava agora à sua breve vida na forma de terrores que tanto lhe ocupavam o dia como a noite. Flor percorria o seu interior com interrogações, confrontos e dúvidas tão violentas que quase se sentia desaparecer.. Percebia que tinha encenado uma parte da sua experiência e se tinha deixado levar neste enredo, sem controlo. Sofria pela primeira vez com a dor de se ver agora à distância numa dança desconhecida. A dança da fuga. Enfrentou nestes momentos tantas dores, fantasmas e acontecimentos que lhe pareciam tão intransponíveis e tão distantes da pessoa que lhe parecia querer tornar-se. A sua pior dor era não saber de si. Nem nas alegrias nem nas tristezas. Mas da dúvida nasce sempre uma certeza e de certeza em certeza, Flor construiu uma estrada inacabada... A estrada de se aceitar sem um fim à vista e de se transformar com o mundo, as pessoas e com o nascimento do seu pequeno grande mundo interior, como Pessoa.
ACC

terça-feira, 9 de março de 2010

E porque não começar com duas inspirações - o prazer e a liberdade?
Aqui fica.

Liberdade

Ai que prazer não cumprir um dever.
Ter um livro para ler e não o fazer!
Ler é maçada,estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca´
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

Início de Viagem

Decidi há uns meses criar um blog em que pudesse com frequência publicar estórias, histórias, vidas, textos, impressões e outras mensagens com que me vou cruzando diariamente. A ideia persistiu e vingou, passando a fase de "ideia páraquedista" - aquele tipo de ideia que nos surge mas que também rapidamente se "esvai". O aspecto mais interessante desta nova "porta aberta" ao mundo, para mim, é o facto de quase todos os dias nos cruzarmos com alguém que nos faz pensar, lembrar ou imaginar... E daí as estórias - com vidas. O desafio está lançado - o objectivo é poder publicar numa base diária ou quase diária (isto de existir uma obrigatoriedade tira-nos o prazer..) algo original, citações ou excertos, motivados por qualquer tipo de experiência "diária".