A maré e o leme
Assisto da janela a um desfile de
formas e contornos aos quais atribuo significados diversos, no seu todo. Cada
nuvem é diferente e parece transformar-se ao sabor do vento, como se algo ou
alguém comandasse essas variáveis quase infinitas que de alguma forma aproximam as nuvens daquilo em que, aos meus olhos, se tornaram.
Penso nessa dimensão do
significado. Pergunto-me porque vivemos tão ligados a ele e à sua construção. Do
sentido, do significado, da procura de chegar a um destino que nos identifique,
a nós e ao que nos rodeia e que continuamente gira nesse ciclo de vida tão
próprio.
Pessoalmente, sinto que me fascina o equilíbrio entre o significado, o
sentido, a busca e aquilo que silenciosamente à nossa volta se tece, algo que
não tem nome e não controlamos. Penso que o extremo dessa experiência de acaso
em que se segue apenas o rumo da maré seria a meu ver também insuficiente e
demasiado alienante. Percorro em pensamento, ligada a essas formas de estar,
alguns exemplos de pessoas que admiro e que se situam neste contínuo de “procura-caminho-escolha-controlo”
versus “destino-acontecimento-acaso”. Pergunto-me se a maioria das interrogações,
conflitos, crises, experiências-extremo (da felicidade à tristeza) se poderão
situar algures neste contínuo da escolha (interna) ao acaso (externo).
Que outras formas de estar
poderemos encontrar?
E de que maneiras vamos mudando
de posição nesta linha mais ou menos contínua de construção de sentidos e
significados?
Mais ainda… De que formas nos
conjugamos e nos ligamos nela entre nós?
E de que forma nos vamos
movimentando em função dos sentidos e posições em que já nos situámos antes?
Transporto-me nesta reflexão para outro
nível… Pergunto-me se são estas as linhas que desenham também o caminho que ao
longo do tempo nos aproxima e afasta de outras pessoas. Pergunto-me se os
compromissos que assumimos em vir a percorrer trajetos em comum, têm em si, de
forma mais ou menos implícita, esta premissa: a ideia de que a nossa agenda de
sentidos, de futuro, de que a nossa rota teria de ser semelhante, quanto ao que
esperamos, de nós, da vida, e no significado e sentido que atribuímos ao que
somos e à nossa ação, neste ciclo complexo…
Vejo agora que em grande parte
confiei também na mão do destino e que nem sempre exigi às palavras e às ações
sentidos mais concretos. Mantenho-me em dúvida quanto a muitos sentidos,
acontecimentos e decisões comandados tanto pela razão-caminho como pelo
sentir-presente e se não, em parte também pelo acaso, numa múltipla conjugação
de fatores.
Sei que continuo à procura de sentidos,
razões, respostas e sinais… E que nem sempre estes surgem, apesar de eu os
continuar a procurar. Talvez seja esse o sentido da transformação… Compreender
e aceitar que os sentidos, como a vida, são por vezes transitórios e incompletos
e há que voltar a procurar uma rota, sem que no caminho deixemos de ser
quem somos.
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